Este artigo surge depois de muitas iniciativas do BOW da AEP e de olhar para este assunto sobre diferentes perspetivas (e com os imputs e experiências de muitos profissionais de exportação). Pois a realidade também é uma perceção. O importante é que essa perceção esteja alicerçada em factos e em estudos.
Há muitos estudos sobre globalização e até movimentos de desglobalização como já referimos aqui no blog. Embora o mais interessante, e que vamos aprofundar aqui, seja a ideia da globalização económica pois é aquela que mais interessa aos exportadores portugueses. E são os exportadores portugueses que servimos com os nossos conteúdos.
Basicamente é a abertura de portas de maioria das economias mundiais, permitindo que pessoas, mercadorias, ideias (projetos), conhecimento (inovação), serviços, tecnologia ou capital possa entrar, como se tudo fosse uma só economia. É a tal ideia de “aldeia global” (Marshall McLuha).
E é esta abertura e fluxos que nos permite produzir e fabricar produtos (ou prestar serviços) em qualquer parte do mundo. Com componentes, conhecimento e inovações provenientes de qualquer país, com recurso a mão-de-obra que pode estar ou vir de qualquer região, com fases de produção e distribuição que podem estar espalhadas por vários continentes. Além de poderem ser vendidos ou entregues em qualquer parte do planeta – conceito de cadeia de abastecimento (ou de valor).
Note-se que o grau de abertura das várias economias não é todo igual. O mundo não se abriu às trocas comerciais livres ao mesmo ritmo (até por questões estratégicas e de protecionismo). Por exemplo: o grau de abertura do Brasil está nos 20% (economia grande e fechada) e o de Portugal nos 80% (economia pequena e aberta). O grau de abertura calcula-se, num formato simplificado, somando importações com exportações e dividindo o numerador desta soma pelo Produto Interno Bruto (PIB).
Não seria mais eficiente produzir tudo o que compramos numa só região?
Basta imaginar um simples computador pessoal aonde está a ser produzido este conteúdo. Em que a produção e mão-de-obra de muitos componentes estão em vários países, o desenho/conceção noutro e a montagem/assemblagem também ter outra geografia. E há mesmo dezenas de componentes que podem viajar milhares de quilómetros para serem montados num mesmo local. Alguns dos produtos que utilizamos todos os dias (mesmo muitos dos transformados alimentares da nossa dieta diária) não existiriam sem o livre comércio internacional. Já pensou nisto? o mundo está repleto de muitas cadeias de valor globais em que interagem milhares de empresas e organizações.
E isto acontece porque, um pouco por todo o mundo, há pessoas, empresas e países que se especializaram a fazer coisas muito bem e pelo melhor preço. E, no limite, quem beneficia é quem compra (muito valor por menos preço). Imagine o tempo e o preço se tudo fosse produzido na mesma região? Em vez de colocar um restrito número de pessoas a tratar de tudo, a globalização dividiu atividades (fatias das cadeias de valor). Rentabilizando tempo e tarefas, fazendo com que os processos de produção ficassem mais eficientes (e eficazes). E o acesso a alguns bens passou a ser mais democrático. E todas as nações, ricas ou pobres, beneficiam com a liberalização do comércio mundial.
Com mais comércio global estamos a criar mais riqueza?
Há muitos estudos que comprovam o impacto positivo do comércio internacional no fenómeno de criação de riqueza. Importante é tentar perceber qual a dimensão da riqueza criada pela liberalização do comércio. Alguns exemplos – 1% do aumento no comércio de um país equivale a um aumento de 0,5% do seu PIB (James Feyrer); a redução nas tarifas de importação de bens de capital e bens intermediários acelera o crescimento do PIB em 1% (Estevadeordal e Taylor); os países que se abriram para a globalização entre 1960 e 1998 tiveram um crescimento económico médio anual 1,5% superior aos dos países que não o fizeram (Roman Wacziarg).
Isto não quer dizer que o comércio global seja a única causa para o crescimento económico, mas tão somente que ele tem um impacto muito positivo na produtividade da economia. Dai que fenómenos como desglobalização que se estão a sentir não façam sentido no médio e longo prazo. Isto se o objetivo for criar riqueza e distribuir a mesma.
A globalização é boa para os pilares da Sustentabilidade e do Ambiente?
Thomas Malthus no século XVIII defendia que população cresceria a um ritmo tão acelerado que mais cedo que tarde superaria a oferta de alimentos, o que resultaria em problemas de fome e miséria. Ou seja, no limite teríamos de regredir nas condições de vida que fomos alcançando, porque elas foram construídas à custa da qualidade do ambiente (e dos recursos consumidos). Mas isto não é verdade, pois a população cresceu exponencialmente e a qualidade de vida em geral não parou de aumentar.
Quem criou mais abundância (oferta) para uma maior procura foi a globalização e a liberdade económica. A ação humana tem impacto no ambiente e há inúmeros desafios que ainda estão por resolver e não devem ser ignorados. Logo, quanto mais satisfeitas as necessidades básicas de uma sociedade (quanto mais asseguradas estiverem as necessidades essenciais de uma população) mais disponibilidade existe para que o ambiente passe a ser uma prioridade. Veja-se, como exemplo, em termos de emissões de Dióxido de Carbono (CO2): 53% das emissões têm origem na Ásia (27% na China) e não nas economias da União Europeia (10%) ou dos Estados Unidos (15%).
As atuais cadeias de valor, dispersas como estão, transmitem segurança?
As cadeias de valor globais foram realmente colocadas à prova como já referimos em artigos anteriores. As preocupações foram significativas quando falamos, por exemplo mais visível ao senso comum, de Saúde. Veja-se o exemplo da produção de máscaras e de ventiladores no segundo trimestre de 2020. Embora, reconhecidamente, todos os setores e sistemas que alimentam a economia global fossem afetados por quebras nas cadeias de valor globais.
A questão é que a nacionalização ou regionalização dessas cadeias (isolamento e protecionismo) pode reduzir ainda mais a diversificação de fornecedores na economia mundial. Ainda no momento de enquadramento pandémico que vivemos, fechando mercados, poder importar de várias geografias significa que podemos ir adquirindo das zonas que estão a conseguir manter a sua produção, por não estarem condicionadas, oferecendo mais escolhas e mais oportunidades. E os condicionamentos não são iguais de região para região, para além de variarem no tempo como já o verificamos.
Para não falar que a desglobalização pode reduzir substancialmente as oportunidades de economias em desenvolvimento e emergentes (veja-se de interesse para nós Angola e Moçambique), que ficariam esquecidas.
A eliminação de algumas barreiras e tarifas aduaneiras (e outros custos de contexto – exemplo da atual especulação no transporte marítimo internacional) que impedem o acesso a produtos críticos, facilitará o comércio de produtos e materiais relacionados com a saúde e combate à pandemia. Para não falar na livre circulação de pessoas e profissionais especializados. Logo, são muitos os instrumentos que ajudam ao combate de um problema global num mundo globalizado e não protecionista.
Agora pense como seria a situação atual de pandemia sem globalização? Seria bem pior! Embora há quem pense o contrário, o que compreendemos. A globalização e o comércio internacional, com todos os problemas que ainda estão por resolver, trouxe mais benefícios, riqueza e acesso a produtos mais baratos do que podemos imaginar.
O excesso de protecionismo (seja ele regionalista ou nacionalista) pode interromper as normais cadeias de abastecimento e iniciar uma escalada de restrições à exportação e importação de todos os países, limitando ainda mais o acesso a bens e equipamentos essenciais.
Uma boa base de dados que sugerimos para ter uma ideia de como está o mundo é a que consta no site Our World In Data (www.ourworldindata.org) – uma publicação online da Universidade de Oxford que permanentemente compila e analisa muitos dados/estatísticas de enorme qualidade.
Outra sugestão interativa é o GAPMINDER (www.gapminder.org) acompanhado pelo livro Factfulness (Hans Rosling), que mostra que estamos enganados sobre muitos factos no mundo e também porque as coisas estão bem melhores do que aquilo que pensamos!
Autor: Equipa de conteúdos do BLOG do BOW @11,2021