Luis Todo Bom | Gestor de Empresas
Publicado originalmente na Revista BOW
O Investimento Estrangeiro é considerado, em geral, positivo para o desenvolvimento económico de qualquer país. Pelos recursos financeiros que transporta, novos mercados que abre, novas tecnologias que apresenta, postos de trabalho que cria.
Não é, pois, de estranhar que exista uma grande competição internacional pela atracção de investimento estrangeiro. Neste processo concorrencial, os vários países realçam as vantagens competitivas que apresentam para os vários tipos de investimento. Portugal não é, pois, excepção.
Somos, assim, diariamente confrontados com afirmações do governo e das entidades públicas realçando as qualidades que o país detém para a atracção de investimento estrangeiro. Afirmações genéricas, pouco estruturadas, que não resistem a uma análise detalhada e rigorosa por parte dos potenciais investidores.
O resultado tem sido, deste modo, medíocre e desolador.
Para além da venda a investidores estrangeiros de posições de controle nas nossas melhores e mais emblemáticas empresas – EDP, ANA, REN, PT, NovoBanco, Fidelidade, …, com perda de autonomia nacional, o país não conseguiu atrair, nos últimos anos, nenhum investimento estrangeiro estruturante, de dimensão e presença em mercados globais.
O último grande investimento estrangeiro que Portugal conseguiu atrair foi a AutoEuropa, que apresenta, neste momento, uma enorme fragilidade na sua permanência no nosso território. A AutoEuropa é um projecto estruturante, de bens transaccionáveis, com dimensão, tecnologia actual e posicionamento global. A razão para esta situação é fácil de explicar.
Os decisores internacionais utilizam matrizes multicritério para análise dos seus investimentos nos diversos países.
No caso das empresas multinacionais, como é o caso da Volkswagen, os CEOs das várias unidades espalhadas pelo mundo, apresentam, no Board Central da Empresa as suas propostas de investimento, que são analisadas por todo o Board e confrontadas à luz dos diferentes critérios.
O CEO da AutoEuropa nunca mais conseguirá convencer os seus pares a efectuarem um novo investimento em Portugal, face aos acontecimentos negativos destes últimos anos.
Nesta análise multicritério, Portugal apresenta valores positivos para os critérios menos pontuados – Clima, Custo e Qualidade de Vida, Infraestruturas Físicas, Quadros que falam inglês a preços acessíveis, … e valores claramente negativos para os critérios mais pontuados – Conflitualidade laboral, grau de Sindicalização, Baixa Produtividade, Burocracia, Sistema de Justiça ineficiente, Fiscalidade elevada para as Empresas e para os Quadros.
Por força desta análise multicritério, torna-se óbvio o elevado risco dum investimento, de bens transaccionáveis, com uma elevada componente de capital fixo.
Assistimos, assim, a pequenos investimentos voláteis, predominantemente na área dos serviços – os “call centers vitaminados”, em que os investidores estrangeiros alugam instalações, contratam jovens universitários que falam inglês, a preços baixos e estão permanentemente preparados para abandonarem o país ao menor sobressalto laboral, fiscal ou financeiro.
As excepções são pequenos investimentos de empresas alemãs, com unidades em Portugal há longos anos, que promovem actualizações tecnológicas das suas unidades de produção.
É fundamental alterarmos esta situação, se queremos impedir que os nossos melhores jovens – engenheiros, tecnólogos, médicos, enfermeiros, gestores, farmacêuticos, … continuem a emigrar.
A minha convicção é que só será possível construir um novo modelo com um acordo de regime, que altere o posicionamento negativo dos critérios atrás referidos. Foi feita uma tentativa com a redução progressiva do IRC. Com os resultados que todos conhecemos.
A atracção de investimento estrangeiro produtivo, de unidades de bens transaccionáveis, com dimensão, tecnologia e posicionamento global, continuará a ser uma miragem. E é pena que assim seja.