Expandir para novos mercados pode catapultar uma empresa para uma nova dimensão de crescimento — ou esgotar recursos valiosos num esforço mal planeado. E são os pequenos passos de como e não fazer que tentamos retratar aqui no blog do BOW.
A escolha do mercado de destino é, por isso, uma das decisões mais críticas de qualquer estratégia de internacionalização.
Este artigo oferece um guia detalhado, baseado em frameworks estratégicas, critérios práticos e ferramentas de análise para que gestores e equipas de exportação consigam selecionar mercados promissores com base em dados, contexto e visão de longo prazo.
- O erro mais comum: ir apenas pelo fator intuição
Muitas empresas escolhem novos mercados por impulso, recomendações informais ou porque “é onde os concorrentes estão a ir”. Apesar de parecer racional, esse raciocínio ignora duas questões centrais:
- O que funciona para uma empresa pode não funcionar para outra;
- O timing de entrada e a preparação fazem toda a diferença.
A internacionalização sem critério é uma aposta às cegas. É preciso criar filtros objetivos e métodos de seleção que reduzam o risco e maximizem o retorno.
- Análise macroeconómica com o modelo PESTAL
O modelo PESTAL continua a ser uma referência sólida para avaliar o ambiente externo de um país-alvo. A análise incide sobre:
- Político: estabilidade governamental, política fiscal, regulamentação do comércio externo, acordos bilaterais;
- Económico: taxa de crescimento do PIB, inflação, poder de compra, câmbio, dívida pública;
- Social: demografia, nível de educação, cultura de consumo, tendências de urbanização;
- Tecnológico: penetração digital, investimento em I&D, inovação nos canais de distribuição;
- Ambiental: políticas ambientais, impacto climático no setor da empresa, normas de sustentabilidade;
- Legal: leis laborais, proteção de dados, propriedade intelectual, regime fiscal.
Esta análise permite mapear riscos e oportunidades antes mesmo de abordar o mercado operacionalmente. A título de exemplo, países com crescimento económico elevado e políticas comerciais abertas são tipicamente mais atrativos — mas convém sempre cruzar esses dados com as outras variáveis do PESTAL.
- Atratividade do setor: As 5 forças de Porter
A análise PESTAL mostra o ambiente geral; já o modelo de Michael Porter ajuda a avaliar a atratividade do setor em que a empresa atua no mercado de destino.
As cinco forças são:
- Rivalidade entre concorrentes: mercado saturado ou espaço para novos players?
- Ameaça de novos entrantes: barreiras à entrada (licenças, know-how, investimento inicial)?
- Poder de negociação dos fornecedores: há dependência de poucos fornecedores locais?
- Poder dos clientes: clientes concentrados ou dispersos? Têm poder de ditar preços?
- Produtos substitutos: o mercado valoriza a solução oferecida ou há alternativas mais baratas/culturais?
A conjugação das 5 forças permite perceber se existe margem de manobra estratégica no setor ou se será um campo de batalha onde apenas os maiores sobrevivem.
- Critérios de priorização de mercados
Com base na análise anterior, cria-se uma matriz de priorização, onde se cruzam critérios qualitativos e quantitativos. Sugere-se que os mercados sejam classificados com uma pontuação de 1 a 5, em critérios como:
- Potencial de procura;
- Facilidade logística;
- Grau de concorrência;
- Barreira linguística;
- Exigências regulatórias;
- Risco político ou cambial;
- Afinidade cultural;
- Custos de entrada.
Com base nos resultados, pode-se classificar os mercados como:
- Mercados primários: entrada imediata (alto potencial e baixa complexidade);
- Mercados secundários: acompanhar evolução e preparar entrada faseada;
- Mercados de observação: elevados riscos, entrada futura com parceiros ou presença digital.
- Fontes de Dados Fiáveis
Para fundamentar todas as análises, é essencial aceder a fontes credíveis. Eis algumas recomendações:
- ITC Trade Map (https://www.trademap.org)
- Observatório Económico Mundial – https://oec.world/en/
- International Trade Center – http://www.intracen.org/
- Economic Inteligence Unit – http://www.eiu.com/home.aspx
- Access2MarKets – https://trade.ec.europa.eu/access-to-markets/en/home
- Estatísticas comercio bilateral – Estatísticas de Comércio Bilateral (gee.gov.pt)
- Google Market Finder – Para produtos digitais
- Banco Mundial – Doing Business
- OCDE – Indicadores por setor e país
- UNCTAD – Indicadores de investimento e comércio global
Ferramentas AEP e AICEP
- TENDERS – https://www.portugalbusinessontheway.com/tenders/
- Blog do BOW – https://www.portugalbusinessontheway.com/blog/
- Trade Monitor + Web international kit – https://www.portugalbusinessontheway.com/ferramentas-para-a-internacionalizacao/
- Plataforma AICEP – www.portugalexporta.pt
- Validação comercial: O teste real
Mesmo após a análise estratégica, nenhum mercado deve ser considerado definitivo sem um teste comercial. Alguns métodos para validar:
- Campanhas-piloto de publicidade digital;
- Participação em feiras ou eventos locais;
- Contacto exploratório com distribuidores/importadores;
- Testes A/B de propostas de valor ou preço com clientes-alvo.
Conclusão
Escolher o mercado errado pode comprometer todo o esforço de internacionalização. Mas escolher o certo — com base em dados, ferramentas e pragmatismo — pode acelerar a entrada e aumentar a rentabilidade da operação externa.
O segredo está em combinar análise objetiva com validação no terreno.
Roteiro prático sugerido: O que fazer e o que evitar
O que fazer:
- Usar modelos como PESTAL e Porter para estruturar a análise;
- Priorizar mercados com potencial comprovado e menor risco;
- Validar com testes comerciais antes de investir;
- Recolher dados atualizados de fontes credíveis;
- Reavaliar a atratividade dos mercados a cada 6-12 meses.
O que evitar:
- Escolher mercados por impulso, moda ou opinião pessoal;
- Copiar a estratégia de concorrentes sem adaptação;
- Entrar em simultâneo em vários mercados sem recursos;
- Ignorar barreiras legais, culturais ou logísticas;
- Subestimar os custos de adaptação.
Autor: Equipa do Blog do BOW


