Entrevista Filipe de Botton à revista BOW – AEP (junho 2017)

Presidente da direção e fundador do Conselho da Diáspora Portuguesa

Os principais mercados de exportação de Portugal continuam a ser Espanha, França, Alemanha e Reino Unido, mas Angola, EUA e Marrocos destacam-se pela positiva (as exportações fora da União Europeia representam quase um terço do total). Como encara estes resultados e que outros mercados podem ser alvo da aposta de Portugal?

Cada mercado terá as suas potencialidades em função dos produtos e especificidades de cada empresa. Não é o Estado que deve se substituir à definição das estratégias geográficas das empresas mas sim cada uma destas – sozinha ou de forma coordenada e associada a outras empresas Portuguesas com as quais possa ter sinergias – a definir os seus mercados de expansão internacionais.

Os têxteis, as máquinas e aparelhos e os combustíveis e minerais lideram as categorias de produtos exportados. Em que outros produtos/serviços pode Portugal apostar para reforçar as suas exportações?

Em todos os produtos Portugal pode, e tem, vantagens competitivas. Mais uma vez depende principalmente da capacidade de gestão das empresas , dos seus líderes , da sua capacidade de inovar e de ousar, da ambição para  continuar a expandir a atividade e gerar crescimento. Há um sem número de empresas, nomeadamente PMEs, que se tem afirmado nos mercados internacionais mais diversos em sectores como os de IT, agro, mas também nos têxteis demonstrando uma invulgar capacidade de se reinventarem.

O investimento total, que cresceu 5,5% no 1. ° trimestre de 2017, face ao período homólogo, reforçando assim a inversão de tendência recente e atingindo a expansão mais alta desde 2005, também pesou no crescimento do PIB português. Como empresário, como vê este resultado?

Vejo o sector privado a investir mercê de uma correcta estratégia de crescimento com sucesso e o Estado, por estratégia de acerto de contas públicas, a se abstrair totalmente do mercado com graves consequências a médio prazo.

Também nesta área, e segundo um estudo da EY, Portugal registou, em 2016, um novo feito ao alcançar o maior investimento direto estrangeiro dos últimos 20 anos, concretamente 59. Alemanha e Espanha foram os principais investidores, com 14 e 10 investimentos respetivamente, enquanto a França liderou a criação de emprego, com 900 novos postos de trabalho e foi o quarto em número de projetos. A estratégia seguida até agora para captação de investimento é a correcta?

Portugal “virou moda” e este efeito acabou por se reflectir e ajudar em termos de IDE. Portugal é vencedor quando está em competição para atrair “nearshoring”, e por factores objectivos que não de moda, Portugal é hoje um País de que se fala pelas boas razões: segurança, capacidade técnica, bons recursos de RH com excelente formação, que se falam línguas, que é próximo, onde temos uma excelente rede de comunicação e infraestruturas de forma geral , para onde é fácil atrair altos quadros para residir,… Ou seja um País onde apetece viver e investir! Portugal é hoje claramente  um “asset” e não mais uma “liability”!

O mesmo estudo destaca o otimismo de 62% dos investidores estrangeiros quanto ao futuro de Portugal e a vontade de 32% dos investidores de aumentarem a sua aposta no nosso país durante o próximo ano. Identifica mérito do trabalho do Conselho da Diáspora Portuguesa nestes resultados?

O Conselho da Diáspora Portuguesa é mais um instrumento que, em articulação com o seu Presidente Honorário Sua Excelência O Presidente da República e com o seu Vice Presidente Honorário O Senhor Ministro dos Negócios Estrangeiros, trabalha na promoção da imagem e do branding de Portugal bem como na aproximação dos Portugueses de fora com os de dentro e vice versa. Temos ao longo dos mais de 3 anos de actividade do Conselho conseguido trabalhar de forma activa, e com resultados concretos, em promover o investimento estrangeiro em Portugal mas também em discutir e implementar novas ideias em área como o financiamento à Economia, a Prevenção na Saúde,  a capacidade de levar o I&D na biotecnologia ao mercado, e já este ano a cibersegurança.

De que modo tem o Dr. Filipe de Botton e os 94 membros notáveis que integram o Conselho da Diáspora Portuguesa (24 países, em cinco continentes) têm promovido a imagem internacional de Portugal e criado condições para que o país se torne um mercado cada vez mais atrativo ao investimento estrangeiro?

Como afirma frequentemente o nosso Presidente e Vice Presidente honorário, os nossos Conselheiros são embaixadores informais do país. Esse trabalho é desenvolvido através de contatos nas suas esferas de influência pessoal, bem como com actividades mais estruturadas como o “Introducing Portugal”, dirigidas nas várias sociedades de acolhimento em que residem os nossos Conselheiros para promover acções de divulgação de Portugal – sempre em concertação com as estruturas Diplomáticas dessas cidades , trazendo a Portugal potenciais investidores das mais variadas áreas : económicas , nas artes ou na ciência , através do desenvolvimento e promoção de novos instrumentos de financiamento para as empresas Portuguesas. Ou seja, através de várias iniciativas que ajudem a por Portugal no mapa e sobretudo com acções concretas que façam valorizar o nosso País e os portugueses.

Já entre os fatores menos atrativos estão a tributação às empresas, a  estabilidade e transparência do ambiente político, jurídico e regulamentar e a flexibilidade da legislação laboral. Concorda? O que seria preciso mudar?

Acreditamos que a estabilidade que Portugal tem demonstrado – contra todas as expectativas – seja uma prova da maturidade que as nossa classe Política tem de demonstrar pondo o interesse do nosso País à frente dos seus interesses pessoais ou partidários, obrigado em nome de Portugal! Todos os pontos mencionados são importantes mas sem estabilidade e sobretudo previsibilidade nada pode acontecer .

“Can’t Skip Portugal” é a assinatura da nova campanha de promoção de Portugal em 20 países. Concorda com esta ideia de que já não é possível ignorar o nosso país, um “país autêntico”?

Sobretudo não devemos embandeirar em arco e “achar que já está” porque não está! O sucesso alcança-se mas tem de ser perseguido e trabalhado todos os dias e durante as 24h do dia , nada acontece por acaso e sem esforço.

O principal instrumento de intervenção do Conselho da Diáspora Portuguesa é a World Portuguese Network que envolve um conjunto alargado de portugueses de influência em quatro áreas: Economia, Ciências, Cultura e Cidadania. Que balanço faz em quatro anos de atividade?

Extremamente positivo, quer pelo empenho e apoio constante dos Conselheiros de Portugal do Conselho da Diáspora, quer pelas acções e iniciativas com resultados concretos que conseguimos atingir ao longo destes 4 anos, mas sobretudo o apoio inequívoco dos dois Orgãos de Soberania – nosso Presidente e Vice-Presidente Honorários – nos tem demonstrado ao longo deste percurso e que nos têm ajudado a que o Conselho seja uma realidade e a sua acção possa ter impacto no desenvolvimento do país..

Salvador Sobral, um músico ainda muito jovem, protagonizou o feito de chamar à atenção do mundo para a música portuguesa, com uma votação muito expressiva em toda a Europa. Será este um sinal de que Portugal tem potencial de exportação nas suas indústria criativas?

O Conselho da Diáspora dedicou há dois anos um encontro a debater precisamente o tema das condições de crescimento e exportação da indústria do audiovisual. Portugal é e tem de ser um somatório de todos os que dele fazem parte – os 10 Milhões que vivem por cá e os mais de 5 milhões espalhados pelo Mundo e que formam a nossa Diáspora – e que tem todos sem excepção ajudado à afirmação de Portugal como um País para onde se deve “olhar”, que se deve  visitar, onde se deve investir, para onde se deve vir viver , para onde se vem estudar e investigar, ou seja um País que vale a pena!