Os Planos de Contingência Serão Cruciais? 

O pessimista reclama do vento; o otimista espera que o vento mude, e o realista ajusta as velas (William George Ward)

Quem tem a coragem de se lançar nos mercados internacionais deve ter em consideração muitos fatores que vamos abordando neste espaço. Nos mercados globais as potencialidades são imensas, os mercados muito diversificados, as oportunidades quase infinitas e, se bem orientados e sustentados, os resultados positivos em vendas acabarão por aparecer.

Acresce a tudo isto o fator de sermos, nós, portugueses, um povo com alma de “expansão”, uma cultura universalista, com uma facilidade criar contactos, empatias e sinergias como nenhum povo no mundo, de sermos apreciados em quase todo o mundo. Somos, na génese, não só um povo global, mas quase os criadores da globalização, por isso tem mais do que nexo que as nossas empresas e os nossos profissionais estejam, já, espalhados por todo o mundo e assim devemos continuar e até incrementar os processos de internacionalização.

Isto é o nosso otimismo.

O pessimismo é, também ele, o óbvio.

Quando mais e maiores forem os mercados maior é o risco, maior é o investimento, maior é a exposição ao fracasso, ao insucesso, à perda.

E qual é realismo?

O realismo é sermos assertivos, profissionais, objetivos e aceitar que o fracasso, o insucesso e perda fazem parte do negócio, fazem parte do processo e, assim como planeamos o sucesso, assim como planeamos a vitória também devemos planear como reagir quando as coisas não correm menos bem, até quando correm mal.

Por isso a importância dos Planos de Contingência (ou de mitigação de riscos), um instrumento e uma ferramenta de gestão que não é muito habitual na gestão e na liderança empresarial portuguesa (pois somos, naturalmente, uns otimistas muito pessimistas, acreditando sempre no melhor, mas esperando, sempre, que aconteça o pior, como afirmava o grande Miguel Torga).

Ser realista é aceitar o facto que, por vezes, o pior vai acontecer e inserir isso no processo de negociação e venda, planeando a contingência.

Ao executar planos de contingência simplesmente limitamo-nos a definir, claramente, o que fazer, como fazer e quem faz o quê quando as coisas correm menos bem ou mesmo mal. Porque, repararem, quando estamos perante o fracasso, a perda, o insucesso tendemos a ser mais emotivos, mais impulsivos, mais reativos quando, de facto, devíamos ser precisamente o oposto.

É perante o insucesso que devemos ser mais objetivos, mais “frios”, mais assertivos. Só assim podemos reduzir perdas, travar o processo e, quem sabe, até tirar dele alguma vantagem. Por isso é fundamentalmente que os cenários negativos sejam ponderados, analisados e equacionados antes de acontecerem, que seja planeada a reação de modo a atingir os seguintes objetivos:

  • Mitigar e reduzir os danos;
  • Parar o processo que conduziu ao resultado negativo;
  • Proteger ativos e cadeias de valor de serem afetadas pelo processo negativo;
  • Definir como se irá retomar a normalidade;
  • Equacionar se há alguma vantagem que se possa retirar do processo.

Com um plano bem definido, prevendo vários cenários e várias possibilidades se algo correr mal, haverá muito mais foco, muito mais assertividade e muito mais objetividade. De igual forma todos os envolvidos no processo se sentirão muito mais seguros e confiantes, sabendo o que quer fazer, como fazer, quando fazer. Com esta reação orientada a minimização do impacto e dos prejuízos tende a tornar-se muito menores do que se baseada numa reação não planeada, não pensada, não orientada.

Acresce ainda que, no processo de elaboração de um plano de contingência, se pode concluir que os riscos são demasiado grandes e/ou difíceis de mitigar e compensar para o retorno que poderá trazer o negócio. Nesse caso cabe tomar uma decisão: ou avança-se ou não. Mas mesmo que se avance (os melhores negócios são, quase sempre, também os mais arriscados) faz-se com a consciência do risco e do perigo, logo, mais alerta, mais atentos, mais bem preparados.

Por isso os Planos de Contingência são tão importantes e devem ser parte integrante de todos os processos de internacionalização desde a sua génese.

Desta forma é importante que as nossas empresas comecem a elaborar Planos de Contingência (não é a mesma coisa que avaliação de risco), a formar os seus quadros, em todas as áreas, para os elaborar e também quando e como os ativar (com a definição do que chamamos de “gatilhos”) assim como os implementar no terreno, esperando, como é obvio, nunca ter de o fazer.

Pois como afirmava um dos nossos maiores poetas, Fernando Pessoa, “Esperar pelo melhor e preparar-se para o pior: eis a regra.” Que seja a nossa regra…

 

Autor: Rui Costa e Silva