A internacionalização de serviços é uma das grandes oportunidades ainda pouco exploradas por muitas empresas portuguesas. A transformação digital, a desmaterialização da economia e a aceleração do trabalho remoto criaram um novo paradigma: já não é necessário produzir fisicamente para exportar. É possível exportar valor, conhecimento, criatividade e tecnologia a partir de Portugal para qualquer parte do mundo.

Apesar disso, muitas PME continuam a pensar na exportação exclusivamente como venda de bens. Este modelo mental deixa de fora setores como software, consultoria, arquitetura, formação, engenharia ou marketing. E todas estas áreas já têm talento reconhecido, embora o salto para mercados externos exija estratégia, adaptação e proteção.

A Comissão Europeia estima que mais de 25% das pequenas e médias empresas que exportam atualmente são prestadoras de serviços. No caso português, esse número ainda está aquém do potencial real. A ausência de bens físicos não elimina a complexidade: exportar serviços implica desafios legais, fiscais, contratuais e operacionais. Mas também abre portas para margens mais elevadas, escalabilidade e presença internacional com menor risco logístico.

Este artigo aqui no blog do BOW pretende ajudar as empresas portuguesas a identificar setores com maior potencial, evitar os erros mais frequentes e estruturar uma abordagem sólida à exportação de serviços.

 

Oportunidades para exportar serviços

Vários setores portugueses apresentam vantagens competitivas claras à escala internacional. A seguir, alguns dos mais promissores:

  • Tecnologia e Software: plataformas SaaS, apps, cibersegurança, automação de processos (Exemplo: OutSystems, Talkdesk, Defined.ai)
  • Engenharia e Projetos Técnicos: soluções para energia, ambiente, construção, transportes (Exemplo: Efacec, TPF Planege, COBA)
  • Arquitetura e Design: projetos urbanos e habitacionais em mercados emergentes e médio oriente (Exemplo: Saraiva+Associados, OODA)
  • Marketing Digital e Branding: conteúdo, performance digital, redes sociais, design estratégico (Exemplo: WYcreative, FunnyHow, BrandCook)
  • Educação e E-learning: formação técnica, soft skills, conteúdos digitais educativos (Exemplo: B-Training, ed-rom, Rumos)
  • Consultoria e Serviços Especializados: ESG, compliance, internacionalização, transformação digital (Exemplo: Abreu Advogados, NovaCâmbios, Primetag)

Estes serviços podem ser prestados remotamente ou com presença pontual. São também fortemente beneficiados por reputação, provas sociais, certificações e especialização.

 

Mercados com maior potencial para serviços

De acordo com a OCDE, os países com maior abertura à importação de serviços profissionais incluem:

  • Espanha – proximidade geográfica e cultural, forte setor de serviços
  • França – procura por soluções criativas e sustentáveis
  • Alemanha – procura por outsourcing técnico qualificado
  • Canadá e EUA – abertura a tecnologia e serviços de consultoria especializados
  • Polónia, Roménia, República Checa – forte industrialização e procura de know-how externo
  • Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP) – escassez de serviços qualificados locais

Nestes mercados, a presença digital (site, SEO, provas sociais) é essencial, bem como o domínio da língua inglesa ou francesa, consoante o destino.

Armadilhas mais comuns na exportação de serviços

Erro comum Como evitar
Falta de enquadramento legal Conhecer a legislação fiscal e de prestação de serviços no país de destino
Ausência de contrato sólido Redigir acordos bilingues com cláusulas de propriedade intelectual, jurisdição e resolução de litígios
Pricing mal estruturado Definir moeda, prazos, adiantamentos e política de revisão de preços
Subestimar diferenças culturais Adaptar a comunicação, tempos de resposta e formalidade às normas locais
Ignorar questões de propriedade intelectual Proteger software, marcas, modelos de negócio e conteúdos formativos

 

Estes erros têm custos elevados: desde a perda de clientes à impossibilidade de cobrança ou à cópia direta de soluções.

 

Roteiro prático para exportar serviços com estrutura

  • Identificar serviços exportáveis: avaliar o que pode ser prestado à distância com valor percebido no exterior
  • Estudar mercados-alvo: usar ferramentas como ITC Trade Map, Eurostat, AICEP Market Reports, Trademonitor (AEP)
  • Analisar concorrência internacional: quem presta os mesmos serviços? A que preço? Com que diferenciação?
  • Modelar a entrega: modelo remoto ou híbrido? Equipa local ou apenas suporte remoto?
  • Estabelecer propostas comerciais e contratos tipo: templates adaptados ao destino, com cláusulas legais consistentes
  • Criar reputação digital internacional: website multilíngue, casos de estudo, reviews, SEO global
  • Explorar redes e plataformas: TED (tenders europeus), UNGM (Nações Unidas), Devex, AICEP, BOW
  • Medir, ajustar e repetir: acompanhar resultados e ajustar abordagem consoante retorno e feedback

 

Fontes e apoios úteis:

  • INE, AICEP, Eurostat, OCDE – dados sobre exportações de serviços
  • INPI / EUIPO – proteção de propriedade intelectual em serviços
  • Enterprise Europe Network – apoio a parcerias internacionais
  • Programa Europeu “Ideas Powered for Business” – cofinanciamento para registo de marcas
  • Creative Europe / Europa Criativa – incentivos à internacionalização cultural e criativa
  • Portugal Digital – iniciativas de transição digital e capacitação tecnológica

 

Exportar serviços é mais do que uma tendência: é uma necessidade estratégica para a economia portuguesa. Numa era digital, em que os limites físicos deixaram de ser barreiras, as empresas com capacidade de gerar valor a partir do conhecimento, da criatividade ou da tecnologia têm vantagem competitiva natural.

Mas essa vantagem só se materializa com estrutura: com contratos, pricing, proteção legal, posicionamento digital e processos robustos de internacionalização. Os serviços não viajam em contentores, mas precisam de consistência e confiança para atravessar fronteiras.

As empresas portuguesas têm talento, conhecimento e reputação. O que falta, muitas vezes, é transformar isso numa oferta internacional estruturada, protegida e escalável.

Neste novo paradigma, o futuro da exportação portuguesa não se mede apenas em toneladas. Mede-se em horas faturadas, projetos entregues, soluções digitais, propriedade intelectual licenciada e parcerias internacionais bem geridas.

É tempo de pensar global, agir com método e posicionar Portugal como um exportador de valor, mesmo sem produto físico. O mundo global compra serviços. O desafio é fazer com que os nossos sejam escolhidos.

Autor: equipa do blog do BOW

Junho 2025

Este artigo faz parte do Projeto BOW 2024/2025.