Como se reflete em muitos dos artigos deste blog uma coisa é certa – a internacionalização corresponde a um processo.
No entanto, é importante compreendermos quais as razões que levam as empresas a se internacionalizarem, sendo que estas derivam de uma conjugação de fatores internos e externos à empresa. Embora a análise parta sempre de uma motivação interna (o que acarreta uma avaliação e uma decisão por parte da gestão da empresa), os fatores externos podem acelerar o processo de decisão quanto aos mercados a abordar.
A título de exemplo, quando observamos um declínio no mercado doméstico as empresas são impelidas a abordar novas oportunidades em mercados internacionais, explorando assim a sua capacidade produtiva. Noutras circunstâncias, são os próprios clientes, que pela evolução natural dos negócios, lançam desafios que as empresas terão de dar resposta, sob pena de perder a relação comercial como esses clientes (exemplo da Indústria de Componentes Automóveis).
A internacionalização permite a criação de círculos de aprendizagem, onde o aprofundamento do conhecimento sobre o mercado pode, quando satisfeitas determinadas condições, permitir novos passos de internacionalização (nomeadamente dentro do mesmo bloco cultural); pode também, dentro do mesmo estágio do processo, contribuir para o reforço da capacidade de inovação, produtividade, competitividade e rentabilidade da empresa.
“É importante que as empresas retirem proveito da vantagem comparativa internacional dos países”
As principais motivações para a internacionalização podem ser agrupadas em quatro grupos de fatores:
- Penetração em mercados externos;
- Manutenção ou reforço de redes de relações;
- Acesso a recursos produtivos;
- Acesso a competências.
A penetração em mercados externos representa a causa mais frequente pela qual as empresas avançam para a sua expansão internacional. A perceção de dinamismo da procura no exterior pode resultar da análise desses mercados, mas também da saturação ou do declínio do mercado doméstico.
Neste sentido, a expansão para mercados externos através de um processo de internacionalização com sucesso, irá produzir um crescimento das vendas e consequentemente das receitas empresa. A segunda motivação – manutenção ou reforço de redes de relações – está associada à replicação internacional de relacionamentos estabelecidos com outras empresas em território nacional.
Já o acesso a recursos produtivos concentra duas facetas principais. Uma diz respeito ao controlo do aprovisionamento de recursos naturais, caso da exploração mineira ou do vinho do Porto. Exemplo disso são os investimentos da petrolífera Galp na prospeção e exploração de gás natural em Moçambique.
A segunda tem a ver com a obtenção de recursos produtivos a custos mais baixos (exemplo do aproveitamento dos diferenciais de salários entre os países, o que tem conduzido muitas empresas a concentrar as suas atividades trabalho-intensivas em países onde a mão-de-obra é mais barata).
Pode afirmar-se que outsourcing na lógica das deslocalizações produtivas assume-se como uma ferramenta relevante neste modelo de internacionalização. Reforçando a ideia de outsourcing, é um mecanismo que permite às empresas contratar ou subcontratar as atividades não essenciais para flexibilizar o uso do capital financeiro, produtivo e humano para atividades nas quais uma empresa detém vantagem competitiva.
No entanto, convém salientar que nem em todos os casos esta estratégia pode revelar-se de sucesso, uma vez que as vantagens em termos de custos podem ser ilusórias (tendo em consideração as exigências logísticas destes processos ou mesmo uma possível perda de qualidade na produção).
A internacionalização permite a criação de círculos de aprendizagem, onde o aprofundamento do conhecimento sobre o mercado pode, quando satisfeitas determinadas condições, permitir novos passos de internacionalização
Quando abordada a questão do acesso a competências ou ativos estratégicos, o objetivo passa por, neste caso, ganhar vantagem competitiva através do rápido acesso a conhecimento gerado em espaços dedicados à inovação, cabendo à empresa tentar integrar essa evolução de conhecimento no seio dos seus procedimentos diários. Embora diferenciadas, todas estas motivações estão interligadas.
As decisões ao nível da gestão das empresas para a internacionalização acabam por resultar, em muitos casos, de combinações de diferentes fatores e não apenas de um em particular.
Assim, sugere-se que a empresa que procura novos mercados ou novos modelos de negócio tenha uma ideia bastante clara dos seus objetivos quanto à internacionalização, antes da tomada de decisão sobre como os atingir.
Autor: Equipa de conteúdos do BLOG do BOW @02,2019