F. L. Murteira Nabo | Presidente da Câmara Comercio e Industria Luso-Brasileira

Publicado originalmente na Revista BOW | Dezembro 2016

Após o processo de descolonização das colónias portuguesas, há cerca de 40 anos atrás, Portugal virou-se para a Europa e passou a participar nas reuniões e eventos das organizações internacionais, das quais havia sido excluído, juntamente com a Africa do Sul, em resultado da politica colonial portuguesa e da politica do “apartheid” sul-africana. Ao fazê-lo como que se esqueceu de que é um país atlântico, virando as costas ao mar  e ficando em termos económicos e comerciais fortemente dependente da Europa, o mesmo é dizer que se fragilizou nas suas relações económicas com as suas ex-colónias, quase todas elas ligadas ao mar e ao oceano Atlântico.

Foram evidentemente criadas nos últimos 40 anos várias organizações e instituições com o objetivo de fomentar uma integração económica no espaço da língua portuguesa, tais como a CPLP e  Confederação Empresarial dos Países de  Língua Portuguesa. Mas a sua eficácia até hoje foi muito  pequena, sendo mais um discurso politico do que uma estratégia  económica e comercial, pelo que as enormes potencialidades emergentes da complementaridade das economias do espaço de língua portuguesa não foram suficientemente aproveitadas.

Com a fragilidade económica da Europa nos últimos 15 a 20 anos, agravada com a crise que se iniciou em 2007/8, com forte impacto em Portugal, a crise politica e económica brasileira dos últimos anos e as consequências da forte queda dos preços do petróleo em Angola, não será de surpreender que as potenciais sinergias entre os países do espaço de língua permaneçam débeis.

Defendo há muito a necessidade de uma politica intensiva de aproximação entre os oito Estados de língua portuguesa, através da criação progressiva de um mercado comum destes Estados, que conduza a uma integração económica real pela adoção de instrumentos de fomento no terreno, como uma maior liberalização dos movimentos migratórios, a criação de linhas de crédito que conduzam ao investimento multilateral e a um aumento da escala empresarial – cada vez mais necessária numa economia global como a que hoje vivemos –  o reconhecimento de cursos superiores e a criação ao nível governamental de organizações eficazes à promoção das complementaridades económicas, tendo em conta que todos sabemos que as antigas colónias são excedentárias em recursos naturais e carentes em tecnologia, quadros qualificados e industrias de maior valor acrescentado, exatamente o inverso do que se passa com Portugal.

Portugal não pode ter sucesso numa Europa que não cresce e com o pequeníssimo mercado doméstico que possui pelo que, numa base de igualdade, respeito mutuo e acordos entre iguais, deve centrar a sua atenção neste espaço ligado ao Atlântico, em beneficio de todos os Países que a história e a língua  ligou. É altura de discursar menos e concretizar mais. Além de que os 250 milhões de pessoas de pessoas que vivem na comunidade de países de língua portuguesa têm uma elevada capacidade de gerar sinergias económicas e comerciais com os seus vizinhos da EU, da CEDEAO, CEMAC, do MERCOSUL, da SADC e da APEC. Representando a CPLP hoje, no seu conjunto, 6% da economia mundial em termos de PIB e 3,7% da população mundial e que tem crescido quase 4% ao ano, é uma área cuja dimensão tem um potencial invejável pelo que não deve ser subestimada.

No Brasil em particular tem-se assistido nos últimos  anos a uma queda da percentagem da industria na composição do produto e a um fortíssimo protecionismo económico e comercial, que obviamente tem conduzido a uma perda da competitividade internacional da economia brasileira. Só uma maior liberalização do seu mercado pode dar competitividade às empresas brasileiras e internacionalizar a sua economia. Portugal é um razoável exportador de  serviços para o Brasil e o Brasil exporta maioritariamente bens e produtos para Portugal.

É pena que grande parte dos investimentos brasileiros em Portugal se concentrem  apenas no sector imobiliário perdendo os investidores brasileiros a oportunidade única de participarem na internacionalização do capital de grandes empresas sediadas em Portugal. Como é pena que os investidores portugueses tenham reduzido fortemente a sua aposta  no Brasil, iniciada na década de 80, com investimentos de alta qualificação e tecnologia, mudando para melhor a imagem que o Brasil tinha de Portugal.

Esperemos que o acordo entre a União Europeia e o Mercosul – que há 15 anos se negoceia – se concretize em 2017 porque ele permitirá que não só que a economia brasileira se internacionalize como Portugal fortaleça a sua posição como porta de entrada do Brasil na Europa.

Esperemos que melhores dias apareçam…