Atuar nos mercados internacionais apresenta às empresas, à partida, dois tipos de dificuldades: os conceitos de “ser estrangeiro” (foreigness) e o de falta de conhecimento sobre as redes de relacionamento e negócios dos mercado nos mercados alvo (outsidership). Logo, é fundamental que as empresas que se queiram internacionalizar detenham competências que as distingam nesses mercados e, ao mesmo tempo, que lhes permitam ultrapassar essas barreiras.

“A internacionalização obriga a uma aprendizagem constante e de um aprofundamento dos conhecimentos da empresa em diversos contextos”

Antes mesmo desse processo de trabalhar novos mercados, a empresa deve realizar todo um trabalho
de preparação prévio, que abarque o conhecimento dos mercados, dos seus potenciais parceiros e de condições de actuação.

Este processo prévio de preparação irá revelar-se de extrema importância no processo de internacionalização da empresa, uma vez que a experiência real de desenvolvimento de negócios no estrangeiro vai, à partida, permitir reforçar a sua solidez nos processos internacionais (e até nos nacionais), fruto de uma aprendizagem constante e de um aprofundamento dos seus conhecimentos em diversos contextos.

A internacionalização encontra-se, desta forma, intrinsecamente relacionada com a aprendizagem experiencial que deriva das condições negociais de cada mercado, com as suas especificidades legais e culturais. Daí, sendo desde já um conselho a registar, que a avaliação de comportamentos e de casos práticos de outras empresas que tenham percorrido o mesmo caminho rumo à internacionalização seja vital para qualquer empresa que pretenda realizar o mesmo caminho. As ações de mentoring que a AEP desenvolve têm também este propósito – partilhar experiências.

Uma correta preparação da empresa, quer no plano das suas competências, quer na recolha de informação sobre os mercados de destino, constitui também um fator vital e diferenciador entre o sucesso e o fracasso de um processo de internacionalização.

Além da preocupação dos gestores em diminuírem o risco associado a este processo de internacionalização, fundamental para que se paute o ritmo de cada empresa, para muitas PMEs a distância continua a ser um obstáculo considerável – note-se que 75% das PMEs exportadoras dos países da União Europeia (UE) estarem focadas maioritariamente em mercados de outros Estados-membros e não em mercados externos à UE.

A partir desta lógica de raciocínio podemos encarar o processo de internacionalização segundo quatro perspetivas:

  1. Evolução do posicionamento nos vários mercados da atividade da empresa
  2. Desenvolvimento, extensão e reconfiguração da rede de negócios internacionais;
  3. Evolução do investimento em ativos no estrangeiro;
  4. Ampliação dos recursos internacionais que a empresa controla ou aos quais tem
    acesso (e da sua base de competências).

Para as empresas já internacionalizadas, todas as quatro perspetivas se interrelacionam, ao passo que para aquelas apenas exportadoras, existem conexões especialmente entre (1), (2) e (4). Convém salientar que, em diversas ocasiões, a internacionalização é um processo sistémico que se inicia através de contactos com parceiros estrangeiros dentro do próprio país.

Refletir sobre o mundo como um mercado, pensar no modelo, ter um plano de abordagem e tomar decisões fazem parte do processo. Mas ele só faz sentido quando passamos à acção e operacionalizamos a estratégia!

A visão lógica da internacionalização como processo reflete-se na sua tradução em diferentes fases de desenvolvimento da atividade internacional da empresa. Assim, são identificáveis os seguintes estádios de desenvolvimento: consciencialização; interesse (informações sobre potenciais mercados e estabelecimento de contactos); ensaio (exportação experimental para um determinado parceiro num determinado mercado); exportação regular; estabelecimento de filial comercial e produção no estrangeiro.

Por outro lado, o processo de internacionalização pode também ser encarado numa perspetiva geográfica ou numa lógica de evolução dos modos de operação num país ao longo do tempo. Assim, em termos geográficos a internacionalização de uma empresa começa por concentrar–se em países mais próximos, quer em termos geográficos, quer no que respeita aos aspetos socioculturais, proliferando-se gradualmente a países mais afastados do seu território.

Este conceito encontra-se intrinsecamente associado a três aspetos já elencados: o papel exercido pela distância, a perceção de risco (tida como superior em países mais distantes), e a aprendizagem, nomeadamente entre países de blocos regionais e culturais.

No que respeita ao tecido empresarial português observamos claramente a existência de dois grandes focos de internacionalização: um que corresponde ao vetor geográfico (pelo que, por exemplo, Espanha se assume ao longo dos últimos anos como principal destino das exportações portuguesas); o outro, que diz respeito à proximidade linguística, histórica e cultural com os demais países de expressão portuguesa (dos quais se destacam o Brasil e Angola).

No entanto, este efeito proximidade não deve ser encarado com uma maior “descontração” na abordagem aos mercados internacionais. Por vezes, essa perceção de proximidade é algo enganadora, como sucede em diversas vezes no caso Portugal-Brasil, levando a um menor cuidado na preparação do processo de internacionalização, o que pode conduzir a insucessos na internacionalização, naquilo que se traduz como o “paradoxo da distância psíquica”.

Uma outra perspetiva concentra-se nos modos de operação utilizados e na forma como estes podem alterar-se ao longo dos anos. Tal alteração pode advir de vários fatores, todos eles interligados. Nota para o facto de três deles serem especialmente relevantes: (1) o desempenho anterior, (2) a aprendizagem sobre o mercado e sobre os parceiros, (3) a alteração das condições contextuais do negócio.

Se a perceção de resultados negativos leva a empresa, muitas vezes, a repensar a sua estratégia de operações num determinado mercado (substituindo um distribuidor ou mesmo cessando as suas operações), a análise aos resultados positivos pode e deverá também levar a empresa a refletir sobre o seu modo de atuação (evoluindo, eventualmente, de exportações para subsidiárias locais).

Refletir sobre o mundo como um mercado, pensar no modelo, ter um plano de abordagem e tomar decisões fazem parte do processo. Mas ele só faz sentido quando passamos à acção e operacionalizamos a estratégia!

Autor: Equipa de conteúdos do BLOG do BOW @02,2019