O processo de internacionalização das empresas portuguesas, em especial as PME, tem registado progressos, que importa consolidar e potenciar. E é isso que tentamos resumir neste artigo…
Autor: Equipa de conteúdos do BLOG do BOW
A frase “estou atrasado para a internacionalização”, encerra em si mesma alguma perplexidade e não deve ser interpretada à letra. É nosso entender que nunca é tarde para colocar uma empresa no caminho da sua internacionalização, implementando uma estratégia pensada e concebida. Esta “aventura” está, então, ao alcance de qualquer empresário que deseje mudar do paradigma doméstico para o internacional, especialmente PME de menor dimensão, que são a grande maioria do tecido empresarial português.
Hoje o tema, para algumas destas organizações, pode parecer enorme, impossível de equacionar e “levar a cabo”, mas como qualquer desafio, e sem criar ilusões, envolve dificuldade e esforço – e ainda bem, pois as coisas fáceis não são desafiantes nem contribuem para um crescimento sustentado, – proporcionando certamente uma recompensa de longo prazo que gerará receitas pelo caminho percorrido.
Mas vamos à fotografia num formato “flash” para darmos conta da realidade…
Na última década, as exportações apresentaram um crescimento superior ao do Produto Interno Bruto (PIB), assumindo-se como um dos principais motores da criação de riqueza nacional. Em 2016, o peso das exportações no PIB ascendia aos 40,2%, quando, em 2005, não ultrapassava os 26,7 % (Instituto Nacional de Estatística — INE). Um crescimento notável de 14% em apenas 10 anos (ver gráfico acima, que totaliza os bens e serviços exportados e importados). Trata-se, muito provavelmente, da maior transformação da economia portuguesa dos últimos 10 anos, especialmente no período de ajustamento com a “troika” entre 2011-15.
Desde 2012, Portugal tem apresentado um saldo positivo da balança comercial, tendo, em 2016, atingido um superavit de 4,1 mil milhões de euros – elemento que tem sido, muito possivelmente, aquele que mais contribuiu para a evolução positiva das contas públicas portuguesas (e contribuidor positivo para o PIB). Salientando, porém, que continuamos ainda, infelizmente, deficitários na balança comercial de bens/mercadorias, embora em franca melhoria se compararmos com anos passados.
Note-se que 64% das exportações nacionais de bens/mercadorias apresentam uma intensidade média/alta de tecnologia (Gabinete de Estratégia e de Estudos do Ministério da Economia, 2015), ou seja, um excelente indicador que caracteriza a qualidade das exportações nacionais. Os serviços (ver gráfico abaixo) têm assumido um peso significativo, correspondendo a 35% das exportações portuguesas (26,281 milhões de euros – INE 2016).
Nos últimos 3 anos, o sector do turismo foi, em média, responsável por 16% do total exportado (aproximadamente 13 mil milhões de euros em 2016), com todos os principais indicadores do sector a crescer, incrivelmente, acima dos dois dígitos. Embora o sector da metalurgia e metalomecânica (incluindo a construção) continue a ser – ainda que com surpresa para os menos atentos – o que mais contribui em peso nas exportações (aproximadamente 17 mil milhões de euros em 2016).
E segundo os últimos dados consolidados – 3 primeiros trimestres de 2017 -, vai ter, também, um ano de 2017 excepcional em termos de crescimento. Juntam-se também os sectores tradicionais, como os têxteis/vestuário (a ultrapassar os 5 mil milhões de euros, recuperando valores de 2001), o calçado (a bater os 2 mil milhões de euros), a cortiça (quase nos mil milhões de euros) e vinhos/azeites (nos 900 milhões de euros). Logo, quase todos, a bater “records” de exportação. Alguns deles dados como “mortos” há 15 anos atrás.
Interessante é notar que o número de empresas exportadoras se tem mantido praticamente inalterado desde 2012 (21500/ano) embora registando-se um elevado grau de renovação da base exportadora (5000 novas empresas exportadoras/ano). Em 2016 (INE), as 5 principais empresas exportadoras nacionais foram responsáveis por 13% das vendas no exterior.
Contudo, importa destacar que 50% das exportadoras nacionais representam, em média, apenas 7% do total das exportações, o que evidencia um elevado grau de concentração. Algo importante (e a reter) que pode colocar em causa a sustentabilidade dos números que se apresentam (imagine-se, por exemplo, a perda de uma AUTOEUROPA ou uma queda do TURISMO).
O Investimento Directo Estrangeiro (IDE) tem vindo a crescer, alcançando o valor de 5,483 mil milhões de euros, em 2016 (Banco de Portugal, 2016). O stock de IDE tem assumido uma crescente relevância face ao PIB (de 52%, em 2012, para 61%, em 2016), e cerca de 7% do total do ano de 2016 direccionou-se à indústria transformadora, enquanto a actividade financeira e de seguros foi responsável por 39%.
Não obstante os resultados positivos alcançados nos últimos anos, quer no plano da internacionalização quer no plano da captação de investimento, existe ainda muito trabalho a fazer e muito espaço para crescer. Os mercados, por si só, são ilimitados de oportunidades, pode-se é não ter um modelo ou estratégia que consiga responder às suas necessidades actuais ou futuras. E isso é outra questão, ou melhor, é o que tem de ser trabalhado pelas empresas – a estratégia e o modelo de negócio adaptado mercado a mercado: a estratégia em termos macro e tácticas/planos de acção numa componente mais operacional.
Por outro lado, continua a verificar-se uma grande concentração nos mercados de destino das exportações portuguesas. Em 2016 (INE), 74% do comércio internacional português realizou-se dentro da União Europeia (UE). Espanha, Alemanha e França, em conjunto, foram responsáveis por 45% das exportações nacionais (ver as duas figuras abaixo).
A diversificação de mercados fora da UE é um caminho obrigatório para o crescimento sustentável e menos dependente da UE. Esse é o posicionamento da AEP (Associação Empresarial de Portugal) no apoio à internacionalização com o seu projecto BOW (Business On The Way) e outros projectos complementares que promove.
Por outro lado, os esforços de diversificação dos últimos anos aumentaram a exposição das exportações e do investimento directo português no estrangeiro (IDPE) a mercados com elevado risco face às variações do preço de matérias-primas e energia (exemplo de Angola).
Verificam-se também, particularmente desde a crise financeira de 2008, dificuldades acrescidas por parte das empresas exportadoras no acesso ao crédito e às garantias financeiras necessárias às suas operações – instrumentos essenciais, a par do IDE, para os esforços de modernização da capacidade produtiva nacional e para o incremento da competitividade das exportações portuguesas (Banco de Portugal).
Por último, ao aumento das exportações brutas não correspondeu necessariamente um crescimento do valor acrescentado nacional (VAN), e a inserção de empresas portuguesas nas chamadas cadeias de valor globais encerra ainda grande potencial. Já os fluxos de IDE têm-se concentrado de forma particularmente intensa nos sectores financeiro e imobiliário, havendo margem para desenvolver e apoiar uma maior diversificação, com maior impacto no tecido produtivo nacional.
No que diz respeito às 1000 Maiores Empresas nacionais este grupo totalizou um montante de exportações que ascendeu a 29,8 mil milhões de euros, cerca de 39,3% do total exportado em termos globais. Deste valor, as empresas de bens/mercadorias venderam “para fora” cerca de 17,8 mil milhões de euros, com uma taxa média de exportação de 37%. Relativamente às empresas de serviços, o valor total foi de 12 mil milhões de euros, com uma taxa média de exportação de 13%.
Logo, na nossa opinião, o caminho pode passar por:
- Potenciar e gerar dinâmicas de cooperação em redes globais que integrem os agentes económicos e institucionais e contribuam para o desenvolvimento de competências e capacidades organizacionais do tecido empresarial em actividades/tarefas inseridas em redes de valor globais
- Aumentar o número de mercados de exportação – fruto da integração da economia nacional na União Europeia, as empresas portuguesas exportam mais de 70% para o mercado interno regional. Mais de 45% das exportações nacionais têm como destino apenas 3 mercados. Logo, continuar a apoiar os esforços de diversificação de mercados (extra-UE), promovendo a aposta em novas geografias
- Reforçar a competitividade das actividades dos sectores de especialização (ou de diferenciação)
- Promover a integração em redes globais de produção de novas actividades com elevado potencial de crescimento que podem ser desenvolvidas (clusters)
- Apostar fortemente no “Business and Market Intelligence” – antecipar tendências e oportunidades provocando uma vantagem competitiva relevante
- Assumir como fundamental o desenvolvimento da massa crítica qualitativa do tecido empresarial (escalar o negócio) para que se consiga responder adequadamente às exigências ditadas pelas dinâmicas concorrenciais da globalização (que estarão em grande aceleração no período 2020-2030)
- Optar pela especialização inteligente do tecido económico, alavancada pela apropriação e incorporação de conhecimento no desenvolvimento de produtos competitivos valorizados pelo mercado – promover a qualificação de recursos humanos, orientados para a actividade internacional e mercados externos, bem como para o desenvolvimento das cadeias de valor em Portugal, em especial em PME
- Apostar num conjunto de factores que permita aos exportadores diferenciarem-se dos seus competidores mais directos – uma estratégia procurando vantagens competitivas deverá ser o foco, com muita consistência na execução com aumento de – vendas de bens transaccionáveis; economias de escala e rentabilidade; competitividade no mercado doméstico; capacidade de produção; sinergias estratégicas
- Partilhar, com outras congéneres, as boas-práticas e os casos de sucesso no que concerne aos respectivos processos e experiências de internacionalização
- Desenvolver novos instrumentos de financiamento das empresas e da sua actividade nacional e internacional – reforço e melhoria dos mecanismos existentes, seja em termos de cobertura dos riscos de financiamento, seja mediante a facilitação do acesso das empresas portuguesas às instituições financeiras internacionais
- Desenvolver tudo o que envolve o potenciar do branding “Marca Portugal” – incremento da imagem dos produtos e serviços portugueses no estrangeiro, bem como a visibilidade da competitividade nacional, e o reforço das vantagens do país e da sua percepção internacional
- Facilitar a política comercial e diminuir os custos de contexto – melhoria do ambiente de negócio, em Portugal e no exterior, sendo determinante o envolvimento de todos os agentes
- Criar ofertas alargadas de produtos e serviços que vão para além dos respectivos portefólios e que visem, através da complementaridade de conhecimentos e experiências das várias empresas envolvidas (num cluster ou projecto), incrementar a competitividade da oferta
- Criar, quando se justifique ou possa, marcas para as ofertas alargadas com o objectivo específico de aceder a alguns mercados – estas marcas devem ser capazes de reposicionar a oferta alargada e de aumentar a respectiva notoriedade
- Aumentar os respectivos investimentos em investigação e desenvolvimento, com particular incidência nos segmentos de mercado em que, de alguma forma, já têm alguma vantagem competitiva
Em resumo, podemos afirmar que a internacionalização das empresas portuguesas será tanto mais proveitosa quanto maior for o seu contributo para o aumento da competitividade da organização a longo prazo.
Releva-se, no entanto, para nunca esquecer que arrancar com um processo de internacionalização requer tempo, investimento, pessoas, recursos, informação, conhecimento, apoio externo especializado e, naturalmente, muitas viagens e investidas ao(s) mercado(s)-destino, seja em missões/feiras ou outros formatos, até conseguir resultados significativos, com foco e com consistência.
O caminho deverá ser um Portugal Exportador mais:
1) Competitivo – que crie riqueza e emprego
2) Conectado – ligado aos mercados regionais e internacionais
3) Atractivo – para visitar e investir
4) Resiliente – capaz de se adaptar à mudança e dinâmica dos mercados