“Os sinais que você ignora no começo, normalmente são as razões pelas quais você vai embora no final.” Thamires Hauch

 

COMO OS LÍDERES EMPRESARIAIS PODEM DECIFRAR O MUNDO GEOPOLÍTICO?

Nunca o mundo foi tão global, nunca houve tanto para vender, nunca houve tanta gente para comprar.

Em especial no designado “Ocidente Alargado” (conceito geopolítico que define os países geograficamente ocidentais ou não, mas que vivem segundo o padrão socioeconómico ocidental), os mercados são altamente competitivos e atualmente internacionalizados e globalizados. O desenvolvimento e a massificação das tecnologias da informação e comunicação e a dinamização dos fluxos logísticos tornaram possível esse mercado imenso onde todos podem comprar tudo em todo o lugar a toda a hora.

Mas, se por um lado, o mercado das empresas se tornou o mundo todo também o mundo todo se tornou influenciador de todos os mercados.

Ainda há alguns anos atrás as alterações ou convulsões políticas de um país afetavam, unicamente, a sua “zona de influência”, os designados “mercados periféricos” e pouco mais. De igual modo, também, como os meios de comunicação eram mais lentos e os fluxos logísticos também menos dinâmicos, as empresas detinham mais reservas em stock, por isso, eram mais resilientes quando convulsões políticas, sociais e económicas afetavam tanto mercados de importação como de exportação.

De algum modo as fonteiras tinham a vantagem de serem elementos de estanquicidade de crises, revoluções e convulsões. Hoje já não é assim.

As fronteiras ou se aboliram completamente (como no espaço único europeu) ou esbateram-se muito, com a automatização e digitalização dos processos alfandegários. Os próprios negócios e transações fazem-se em segundos por aplicações instaladas em simples telemóveis e os fluxos logísticos são tão dinâmicos, ágeis e eficientes e os tempos de entrega tão curtos que quase ninguém tem reservas de nada nem stock de coisa nenhuma abolindo, assim, capital estagnado em armazém e espaço alocado a reservas mesmo quando compramos ou vendemos para países que ficam do outro lado do mundo.

É, a todos os níveis notável e torna os processos de internacionalização altamente competitivos, mas, também, fortemente compensadores. Mas tudo, mas tudo mesmo, tem o seu reverso.

Sem fronteiras que “estanquem crises” e sem reservas que nos permitam a resiliência, uma crise política no outro lado do mundo pode ter um efeito global. Desde convulsões políticas, a revoluções a simples incidentes naturais ou tecnológicos, tudo pode ter efeito em toda a gente.

A atividade terrorista no distante Golfo de Áden condiciona o acesso ao Mar Vermelho e assim a 20% do Comercio Mundial; as alterações climáticas reduziram o caudal no Canal do Panamá reduzindo em 20% os níveis de utilização dessa fundamental via de comunicação entre o atlântico e o pacifico; um ataque de um grupo terrorista em Israel afeta os preços dos combustíveis e logo de toda a cadeia de valor; eleições presidenciais com resultados incertos nos Estados Unidos fazem disparar a cotação do dólar fazendo aumentar a volatilidade nos mercados cambiais provocando oscilações dramáticas em muitas operações…Nada está a salvo de nada e tudo tem interferência sobre todos.

Como se costuma dizer “o mundo tornou-se uma ervilha” para o bem e para o mal. Tal interfere muito, com os processos de expansão e de internacionalização.

Na atualidade fazemos negócios com zonas e países de que quase nada sabemos, de que ignoramos a cultura, o ordenamento social e mesmo os especificidades e particularidades (e estabilidade) dos seus sistemas económicos e políticos. Tal, óbvio, aumenta muito o risco.

Desta forma é muito importante que todos os agentes e empresas envolvidos em processos de internacionalização tenham, em primeiro lugar, acesso a informações rigorosas, assertivas e focalizadas sobre os mercados onde vão atuar de modo a terem acesso a instrumentos de apoio à decisão que lhes permita efetuar negócios com o máximo possível de sustentação, garantia e cientes do nível de risco em que incorrem. Para isso são, muito úteis, por exemplo as sessões de mentoring BOW da AEP Internacional em que especialistas fornecem informações muito válidas e úteis assim com “dicas” muito importantes sobre vários mercados, alguns deles ainda emergentes e “fora do radar”, que podem ser excelentes oportunidades de negócios.

Em segundo lugar é urgente que esses mesmos agentes que intervém mais diretamente nos processos de internacionalização das empresas tenham formação em geopolítica e geoestratégia de modo a saber interpretar a informação que recebem, assim como os vários indicadores que vão sendo emanados de várias fontes, tanto para evitar o risco como para poder aproveitar as múltiplas oportunidades de negócios que as constantes alterações e convulsões do mundo atual vai sofrendo.

Pois, convenhamos, por muito politicamente incorreto que seja dizê-lo publicamente (embora todos o saibamos) a má sorte de uns é a oportunidade de outros, o mau negócio de uns é a oportunidade há muito esperada de outros.

E é preciso conhecer como se “joga” este complexo “xadrez” da política e da estratégia internacional para podermos evitar o perigo e fazer jogadas acertadas que nos tragam diferenciação, vantagem e sucesso, mesmo (e principalmente) nas mais adversas condições.

Desta forma uma área como a geopolítica, a geoestratégia e geocultura, assim com a Intelligence Estratégia que, até hoje, esteve afastada dos programas de mestrados em gestão e internacionalização e dos MBAs tornam-se, nos mercados atuais, absolutamente fundamentais para quem quer estar de um modo sustentado, prevenido e atento nos mercados internacionais tanto em termos de compra como venda de produtos e serviços.

Porque neste “jogo” da internacionalização, como em qualquer jogo, se entramos é para vencer, mas para vencer temos de ser os mais capazes, os mais adaptáveis e os mais ágeis e isso só conseguimos se formos os mais informados, os mais bem formados, os mais inteligentes.

Porque, como costumo dizer muitas vezes: o sucesso mais do que um objetivo é uma consequência.

Vamos aprender e saber muito bem a regras do jogo para o condicionar de modo que a consequência dos nossos atos nos seja sempre favorável e assim a vitória não seja mais uma incógnita, mas sim uma certeza.

 

Autor: Rui Costa e Silva