O comércio internacional de bens e mercadorias está a recuperar muito mais rapidamente durante esta “crise pandémica” quando se compara com a crise financeira de 2008, ajudando, assim, a uma mais rápida recuperação da economia mundial.

Está mesmo a desafiar as previsões mais pessimistas de que a quebra nas cadeias de valor globais poderia levar o movimento de globalização a um retrocesso permanente.

Aconselhamos a visitar ou revisitar estes dois artigos aqui do blog do BOW:

Quando o novo coronavírus apareceu no início de 2020, o comércio internacional de bens sofreu a maior queda de sempre desde a Grande Depressão de 1929. Os Economistas e outros especialistas alertaram sobre movimentos protecionistas, o que por contágio levou algumas empresas a reavaliar as cadeias de abastecimento.

O comércio de bens globalmente, salvo raras exceções, ainda permanece abaixo dos níveis pré-pandemia. Ainda assim, está a recuperar com força – e recuperou cerca de metade da perda histórica deste ano até junho, de acordo com cálculos do Instituto Kiel para a Economia Mundial (ver figura abaixo – think tank alemão).

Um bom exemplo é o mercado internacional português, em que as exportações da região Norte dispararam 95% entre abril e julho, claramente acima da média nacional (71%). Em julho, as exportações com origem no Norte atingiram os 2040 milhões de euros, um valor superior ao de janeiro (1955 milhões de euros), enquanto que na média do país o valor ainda era inferior ao registado em janeiro, de acordo com o relatório Norte Conjuntura da CCDRN – ver mais detalhe aqui.

Para nos situar em termos de geoestratégia industrial, durante as últimas décadas, a crescente ligação entre o comércio e o investimento internacional cresceu e deu origem às chamadas cadeias de valor globais, tendo estado o comércio internacional e as atividades produtivas à escala global estruturados à volta dessas cadeias de valor.

As cadeias de valor globais (Global Value Chains) têm estado ligadas à importancia das trocas de bens intermédios para novos processamentos, facilitando o “offshoring” e o “nearshoring” na fabricação e montagem de partes dum produto global.

A gestão do risco passou a ter novos contornos, forçando a um movimento que foge do “offshoring” e procura o “reshoring” e o “nearshoring” para ganhar mais proximidade e controlo sobre o fabrico dos componentes e do produto final. As cadeias de valor global vão sofrer reconfigurações com um peso significativo da produção mais próximo do consumidor.

E, no quadro da nossa reindustrialização que a AEP (Associação Empresarial de Portugal) defende, há aqui óbvias oportunidades para a indústria portuguesa de forma a estar mais presente em algumas destas cadeias, fortalecendo a relevância de alguns clusters que temos e são reconhecidos internacionalmente.

Ao nível destas cadeias, a pandemia veio também alertar as grandes empresas multinacionais para o risco da excessiva dependência da China (e da Ásia) duma forma mais violenta e mais abrupta do que o estava a fazer a guerra comercial EUA-China. Acreditamos que no médio-longo prazo, as empresas que sobreviverem terão que dominar um novo ambiente de negócios e terão que responder a duas tendências que já existiam e que estão a ser muito aceleradas por esta crise:

  • (1) A transição digital e a adoção de novas tecnologias (o teletrabalho, o e-commerce, o e-logistics, os pagamentos digitais, a tele-saúde e o e-learning);
  • (2) Aumentos dos custos da mão-de-obra na China e guerra comercial EUA- China (com uma necessidade e quase obrigação de produzir mais perto do consumidor)

Os desafios futuros são consideráveis. O fator confiança dos negócios caiu muito nos últimos meses. Sendo que a confiança é contagiante, assim como a falta de confiança também o seja (…)

As novas encomendas relacionadas com exportação estão a crescer em 14 das 38 economias medidas pela empresa de pesquisa IHS Markit em agosto, em comparação com apenas quatro em junho.

A atividade de transporte marítimo em alguns portos dos EUA, Ásia e Europa também estão com tendência para normalizar, de acordo com dados de volume de mercadorias transacionadas globalmente. Salienta-se também que, em paralelo, as taxas de transporte em algumas das mais relevantes rotas marítimas, com o retorno da procura, subiram muito acima dos níveis anteriores à Covid-19.

Salienta-se pela análise que não há uma uniformização da retoma, e o comércio internacional de mercadorias ainda enfrenta alguma resistência, incluindo um já visível ressurgimento do coronavírus neste outono (ver figura abaixo).

Ainda assim, os países onde o comércio melhorou, incluindo a China, a Coreia do Sul e a Alemanha, estão a ver as suas economias a recuperarem melhor do que países que dependem mais de serviços. Como é o caso mais lento de Portugal, uma economia pequena e muito aberta com uma exposição significativa aos serviços (componente do Turismo).

A China está a caminho de ser a única grande economia a crescer este ano. Na Coreia do Sul e na Alemanha, espera-se que as economias contraiam 1,5% e 5,3% este ano, respetivamente, muito menos do que países mais voltados para serviços como Itália, Espanha e Portugal, que devem contrair entre 8% e12%. Isto sugere que o comércio pode desempenhar um papel mais importante na recuperação económica mundial do que o previsto, isto se a tendência continuar.

Os desafios futuros são consideráveis. O fator confiança dos negócios caiu muito nos últimos meses. Sendo que a confiança é contagiante, assim como a falta de confiança também o seja. A recuperação pode estabilizar em breve na Europa e em outras regiões, à medida que os programas de estímulo forem eliminados.

A participação da China no comércio global de mercadorias subiu de 13,6% no último trimestre de 2019 para 17,2% no segundo trimestre deste ano após a pandemia, de acordo com a Oxford Economics. Os EUA registaram recentemente o seu maior deficit comercial desde 2008. Enquanto isso, muitas empresas ainda estão a repensar as suas cadeias de abastecimento, o que pode, eventualmente, alterar os padrões de comércio no longo prazo.

Este é o momento para quebrar paradigmas (sair da caixa), atuar de forma arrojada e corajosa, sabendo que riscos, falhas, angústias e desilusões fazem parte deste caminho. Porém, esta pode ser uma excelente oportunidade para repensar o modelo económico europeu e apostando em empresas de cariz inovador.

Estamos certos que acontecimentos disruptivos trazem grandes oportunidades para a sociedade e para as empresas. São tempos desafiantes, embora reconhecidamente difíceis. Atualmente é possível afirmar que esta pandemia teve como “danos colaterais positivos”: a aceleração da digitalização de processos, o crescimento significativo do comércio online e ainda uma maior competitividade na procura de soluções mais sustentáveis.

Autor: Equipa de conteúdos do BLOG do BOW @11,2020