“O dinheiro é, na sua essência, a medida das escolhas de um homem.” (Bill Dubuque)

Os Ativos Estratégicos são o que de mais valioso tem qualquer tipo de organização pois é o que a distingue de toda a concorrência.

A diferença é, então, o que gera valor pois é o que possibilita uma organização ser escolhida pelo mercado em detrimento de outras. Essa diferenciação pode estabelecer-se de dois modos:

Em ambos os casos, a vantagem radica no domínio de produtos, serviços, métodos e processos a que a concorrência ou os oponentes não têm acesso ou não dominam.

Desta forma, se a concorrência poder aceder a esses produtos, serviços, métodos e processos implica o fim da vantagem seja por imitação (deixa de ser único) seja por negação (impede que o produto atinja o mercado).

Também, em ambos os casos, perdida a exclusividade, perde-se valor e perdendo-se o valor perde-se o proveito. Desta forma, é fácil de concluir que os Ativos Estratégicos são a base do valor das novas organizações e dos novos mercados.

E, são, precisamente essas organizações que são as atuais bases das Nações. Cada vez mais, a posição dos Estados no contexto Internacional não é atingida pela sua capacidade bélica mas sim pela capacidade económica.

Desta forma, as empresas, a sua informação, os seus ativos e os seus processos, se antes eram encarados como não prioritários e do domínio privado (e não do Estado), atualmente devem e são encarados como estratégicos e sensíveis.

Uma Nação, atualmente, é tão mais forte quanto mais forte e sólido for o seu tecido empresarial e, essa força mede-se pela capacidade de inovação e diferenciação em relação à concorrência.

O fim da bipolarização geopolítica veio criar a possibilidade de existirem “potências regionais” ou “influências locais”. O domínio global ”joga-se”, agora, e ao contrário do período anterior à queda do Muro de Berlim, em pequenos cenários onde a junção de vários ativos e vantagens estratégicas garantem posições determinantes no contexto geral.

Assim, empresas, tal como países, outrora secundários (assim como governos e agências) podem ser alvo de Intell hostil precisamente devido à fragmentação dos domínios de interesse estratégico.

E, sendo, cada vez mais, as empresas alvos estratégicos, para enfraquecer a posição de uma Nação no contexto global, os Estados estão cada vez mais dispostos a investir em Intell  hostil em relação ao sector privado.

Isso, dota a Intell empresarial ou Business Intell de um conjunto de meios, dispositivos e capacidades de ação que não tinha até uns anos atrás. Tal facto deve-se a uma alteração completa do paradigma empresarial que transformou, por sua vez, a própria natureza dos Estados. A riqueza e os processos de geração dessa mesma riqueza alteraram-se completamente, alterando, por consequência, o tecido social, as relações de dependência, os conceitos de classe e, por inerência, os conceitos de Poder.

E esta metamorfose, deveu-se à alteração completa da natureza do valor das organizações. O Capital Intelectual começou, progressivamente, a ser predominante em relação aos ativos mais tradicionais da indústria transformadora tais como as matérias-primas, maquinaria e criação de produtos tangíveis.

Os Ativos Intangíveis (como o conhecimento) começaram a dominar em relação aos Ativos Tangíveis. Desta forma, 81% do valor das organizações é atualmente intangível, isto é, 81% é suscetível de ser atacado, furtado, roubado, comprometido por meio de ações de Intell.

Hoje em dia, nos Estados Unidos da América, os negócios baseados na propriedade intelectual, segundo a ONCIX, suportam mais de 40 milhões de empregos e contribuem com 5 triliões de USD/ano para a economia.

Tal realidade aplica-se, da mesma forma, a Estados onde os ativos e as informações estão, cada vez mais, confiadas a formatos digitais em vez dos tradicionais formatos físicos. Desta forma, os equilíbrios geopolítico e geoestratégico alteraram-se por completo.

A riqueza dos Estados deixou de estar diretamente relacionada com o acesso a recursos naturais e energéticos como foi durante milhares de anos. A partir de agora uma Nação sem qualquer valor em termos de Comodities pode tornar-se uma potência desde que a sua população tenha capacidade de produzir o “novo ouro”:

CONHECIMENTO

Mas há algo que nunca muda…

…de nada serve ter valor se não se consegue proteger esse mesmo valor. E há uma crescente necessidade, óbvia, de conquistar e acumular valor, tanto por parte das organizações como por parte de estados e Nações pois, uma e outra coisa, são similares e consequentes.

A disposição de empregar cada vez mais meios na aquisição e acumulação hostil de informação é crescentemente maior.

A criação dos mercados globais e de grandes impérios empresariais multinacionais e baseados na economia digital, deram às organizações uma dimensão, poder e recursos capazes de desencadear, contra os seus concorrentes, ações de Intell que, antes, estavam reservados a grandes serviços e agências de poderosas potências.

 

Do mesmo modo que as Organizações, as Nações mais pequenas, a salvo no anterior cenário geopolítico e geoestratégico, podem agora ser alvos de ações de Intell com um grau de poder, influência, agressividade e sofisticação muito grandes, desde que essa Nação, tenha interesse em termos de “aquisição”.

Desta forma, estratégias, sistemas e métodos de Segurança da Informação e de Contrainteligência têm de ser transversais a todos os elementos estratégicos de uma Nação, do público ao privado, das empresas aos serviços e departamentos estatais, passando por áreas de negócios estratégicos e sectores de atividade prioritários.

Assim, empresas, organizações e instituições tem de deter programas de segurança agressivos e bem-dotados, capazes de proteger a sua propriedade intelectual, segredos, negócios, mercados, objetivos estratégicos e a integridade da sua marca e imagem.

A Contrainteligência e a Segurança são distintas, mas complementares e, é importante que as organizações entendam essa diferença de modo que estabeleçam um programa tanto de Contrainteligência como de Segurança. Assim, todas as organizações necessitam de um programa efetivo de segurança Física que assegure a proteção de colaboradores, instalações e ativos físicos e um de Contrainteligência que garanta a segurança dos ativos informacionais.

Mas sendo a segurança, na sua génese, passiva, a Contrainteligência, é pró-ativa e, assim, no âmbito organizacional, não basta, somente, colocar o foco nas ações e técnicas relacionadas com a obtenção das vantagens competitivas obtidas. Torna-se, fundamental, a aplicação de técnicas e ferramentas para a manutenção dessas vantagens, incluindo a proteção do designado “Conhecimento sensível”.

E isso obtém-se com proatividade e “agressividade”, recorrendo à Contrainteligência.

Pois, em comparação com a Segurança que é passiva, a Contrainteligência é, em simultâneo, defensiva e pró-ativa e incorpora vertentes de análise e de investigação que permitem antecipar, conter e prevenir a ação de oponentes, protegendo recursos, processos e património intelectual da organização. Um programa efetivo de Contrainteligência garante que a organização identifica, claramente, os seus ativos mais vulneráveis, entende o que ameaça esses ativos, categoriza as vulnerabilidades que se podem tornar suscetíveis de serem exploradas e que toma as medidas necessárias e dê passos apropriados para mitigar esses riscos.

Só desta forma, protegendo a sua informação, protegendo o que a diferencia, o que lhe confere valor as empresas e organizações estão devidamente preparadas e capazes de sobreviver no cada vez mais competitivo, aguerrido e impiedoso mercado global.

 

Autor: Rui Costa e Silva/ José Carlos Pereira